A Dama de Xangai, de Orson Welles. Com Orson Welles, Rita Hayworth, Everett Sloane. 1948. 84 min
Orson Welles opus dois. Sem a luz verde do estúdio do primeiro filme, apesar dos bloqueios e resistências do sistema, construiu mais uma história como só ele conseguia. Drama de intriga e crime, mais complexo do que parece à primeira vista. Filme negro. Uma mulher fatal, enigmática, com um passado pouco claro. A China é uma referência. Um encontro para a morte. O personagem de O. W., aventureiro mas com sentido ético não resiste à beleza da Rita Hayworth, magnificamente exposta nas imagens do filme. Nada do que parece é, como aliás é mostrado metaforicamente na maravilhosa sequência final - os personagens frente a um jogo de espelhos numa feira abandonada. A distorção das imagens põe em dúvida o sentido do real. Num jogo de personagens qual delas a mais intrigante, a morte é imperial como na história dos tubarões que O. W. conta duas vezes. Uma espécie de interlúdio amoral na vida daquela personagem que tenta viver decentemente sem medo, ele que já correu mundo - Guerra Civil de Espanha, China, Brasil... Já agora, o universo da ficção também anda por espaços estranhos - México, Chinatown (S. Francisco) - como O. W. fez noutros filmes. Rita Hayworth que tinha sido casada com O. W. e era uma das estrelas rutilantes de Hollywood, apareceu no filme com um look totalmente diferente da sua imagem tipo. Foi um verdadeiro terramoto que Welles alimentava com a sua voz poderosa nos meios de comunicação social. Mesmo assim, o filme não foi na altura um sucesso. Felizmente foi recuperado pela história para nosso prazer. Prestem atenção à voz off de O. W. que vai contando o filme. Deixem-se envolver por aquela cadência mágica e acompanhar o pesadelo que o mergulha no medo e na morte. O seu personagem safou-se e ele afasta-se à procura da normalidade. A nós compete-nos fruir do prazer da ficção.
30 setembro 2025
A Dama de Xangai, de Orson Welles (1948)
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