30 setembro 2025

A Leste do Paraíso, de Elia Kazan (1954)


A Leste do Paraíso, de Elia Kazan. Com James Dean, Julie Harris, Raymond Massey, 1954, 118m

A seguir a T. Williams, John Steinbeck. Kazan escolhia bem os seus parceiros artísticos. Uns anos depois Steinbeck era Prémio Nobel da Literatura (1962). A obra dele é certamente um dos prazeres de muitos de nós. As Vinhas da Ira, A um Deus Desconhecido, A leste do Paraíso. Fora todos os outros editados pela Livros do Brasil. As Vinhas da Ira tinha sido já transformado em filme pelo John Ford com o Henry Fonda. Ficção de caráter social. Uma leitura seca sobre a América do século XX. Como aqui. Conflito familiar na América profunda dos anos da primeira guerra mundial. Um mundo do passado contra um mundo futuro. E a família. As feridas familiares. Pais e filhos. Uma mãe que cortou com as convenções e um filho que procura compreender. Os fantasmas à deriva. A mãe qual fantasma recuperado do tempo a questionar o equilíbrio familiar (falso). E o filho - James Dean - qual arquétipo do filho à deriva à procura do passado que lhe foi elidido. Melodrama puro e duro. A culpa. A Bíblia como reguladora dos desvios humanos. A ausência de comunicação - "Fale comigo pai". É impossível ficar indiferente à força das situações e ao dramatismo dos personagens. O cinema atinge aqui um dos cumes. A sequência inicial é uma autêntica aula de cinema. Esta lá tudo. É esta lá James Dean. Mais uma formatação do Actors Studio e da metodologia do Stanislavsky. Como o Brando. Dean foi um cometa, apareceu do nada e esvaiu-se no nada. Carne fundida no metal do Porsche com que se desfez a muitos quilómetros à hora. 24 anos e acabou-se. Três filmes e uma assinatura indelével na história do cinema. Aqui era o personagem (ou era ele próprio?) à procura do reconhecimento no contexto familiar.

Tão afirmativo com inseguro. É sempre um fascínio revê-lo. Aqui vemo-lo na exuberância do cinemascope a cores que o Kazan usou pela primeira vez. Parece que o tempo não passou. Para nosso prazer renovado.


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