Com Steve Reeves, Fernando Rey. 1959. 94 min
Sergio Leone é um cineasta desvalorizado. E, no entanto, fez três filmes que gravaram o seu nome nos anais da história do cinema -" Por um punhado de dólares", "Por mais alguns dólares" e "O bom, o mau e o vilão".
Com a personagem que criou, o Clint Eastwood reentrou pela porta grande em Hollywood e certamente aprendeu muito, se nos lembrarmos da obra dele como realizador. Mas depois ainda houve "Era uma vez no Oeste" e "Era uma vez na América" , para mim um dos mais espantosos filmes do nosso tempo.
Mas... há um antes. Sergio Leone quase nasceu na Cinnecita - os grandes estúdios de cinema italianos. O pai e a mãe trabalhavam lá. Desde muito novo foi assistente de realização de muitos filmes. Vitorio de Sica, Luigi Commencini, etc. foram mestres dele.
E é aí que começa tudo. Um realizador medíocre que ficou enterrado na história do cinema (Mario Bonnard) ficou doente e o jovem tomou o seu lugar. Uma história encaixada na História. A erupção do Vesúvio, a destruição de Pompeia (ano 79 DC). A perseguição dos cristãos pelo Império Romano. Uma ficção amorosa bem engendrada, os decors credivelmente elaborados. O álcool e as orgias. O exotismo do Império Romano no seu auge. Ecos do Oriente, a Palestina e a Judeia. Ahh. E os actores. Naqueles tempos a Cinnecita era polo de atração de actores europeus e americanos. Não havia problema com a língua. E assim temos o
Steve Reeves a fazer de Glaucus, um centurião, falando italiano de gema.
Naqueles anos o modo de produção do cinema italiano era bizarro - os diálogos e
o som eram feitos em pós produção. O Felinni dizia aos actores para irem
contando... 1,2,3. Quem era este personagem? Fraquinho actor americano cujos
atributos eram físicos. Tinha sido Mr. América e Mr. Universo. Em Itália fez de
Golias, Hércules, Sandokan... Mas, para compensar temos o Fernando Rey, esse
grande actor espanhol que iria ser nossa visita habitual (às vezes na companhia
da Catherine Deneuve) uns anos mais tarde nos filmes do Bunuel. Mas há tantas
pequenas pérolas espalhadas pelo filme. A música exoticamente adequada, a
exuberância do vestuário, a montagem extremamente económica e rigorosa (não há
devaneios), a eficácia narrativa nas sequências da erupção do vulcão, com
alguns planos incrivelmente belos, provavelmente filmados por acidente... veja-se
o menino louro perdido naquela confusão de cartão... O naif fazia parceria com
o sofisticado, mesmo contra a História -
aquele coro dos prisioneiros cristãos com música religiosa para aí do século
XVII ou XVIII...
O prazer visual associado ao
prazer da memória. Os manuais do cinema chamam a este tipo/género "sword
and sandal film". Eu, na inocência da minha idade chamava-lhes os filmes
dos romanos. Que grande gozo.
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