Com Franco Citti, Silvana Mangano. 1971. 107 min
Pasolini e Boccacio. Seiscentos e tal anos, mas o mesmo sentido. Os podres, as misérias da sociedade. As alienações e a devassidão dos comportamentos. Mas com um apurado sentido estético. Como alguém defendeu, o cinema de Pasolini era o cinema de poesia. Num texto de Pasolini de 1962 está bem expresso o sentido clássico da produção pasoliniana. Vejamos: "O meu gosto cinematográfico não é de origem cinematográfica, mas sim pictórico. As imagens, os campos visuais que eu tenho na cabeça são os frescos de Masaccio, de Giotto - os pintores que eu mais amo, com certos maneirismos (como, por exemplo, Pontormo). Não consigo conceber as imagens, as paisagens, as composições das figuras fora da minha paixão fundamental por esta pintura do Trecento". Das cem histórias do grande clássico da literatura da Idade Média - Decameron - Pasolini escolheu nove e com elas criou um diversificado painel analítico dos comportamentos humanos entre o trágico e o erótico - luxúria, prazer, ascetismo, corrupção, intolerância... A partir de histórias de um tempo antigo Pasolini construiu um pequeno quadro rendado onde mostra que os comportamentos humanos não se vão alterando muito com a passagem dos séculos. Lamentavelmente, diremos nós. As rupturas vão acontecendo, felizmente. Mas, na essência, é sempre o homem enredado na complexidade da sua alma.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.