01 janeiro 2024

Um dia nas corridas, de Sam Wood (1937)

Com Irmãos Marx, Maureen O'Sullivan, Margaret Dumont. 1937. 111 min

Ponto de ordem ao e-mail: eu sou marxista. Não, não, não. Ninguém faça juízos de valor. O outro Marx, Karl de seu nome, não é para aqui chamado, independentemente do seu papel inapagável na história do mundo nos últimos 150 anos. Eu sou marxista enquanto fã incondicional dos irmãos Marx, que nasceram, ainda no século XIX, duas gerações depois do senhor das barbas imponentes. Judeus, nova-iorquinos, filhos de um casal franco-alemão. Três irmãos, (mais um no início, mas que mais para a frente se deixou de comédias) que desde o fim dos anos 20  fizeram algumas das comédias mais loucas (no bom sentido) da história do cinema.

Iniciaram-se como artistas de variedades, circulando pela América em espectáculos de vaudeville e burlesco. Mais para a frente têm a afirmação na Broadway e não resistiram ao fascínio de Hollywood. Em 1929, fizeram o primeiro filme "The Cocoanuts" a partir de uma comédia que eles representavam com sucesso em Nova York.

"Um dia nas corridas" é já da fase madura (sétimo filme) , dirigido por um realizador respeitável (Sam Wood) e a história é bem normal dentro dos padrões mais ou menos tipificados daquela altura: um sanatório com dívidas, na Flórida, em vias de ser abocanhando por especuladores imobiliários. Corridas de cavalos como hipótese de salvação do sanatório se os bons ganharem. Um médico que, na verdade, é veterinário, um jogo de equívocos muito próprio dos Marx. Um jovem casal, muito bonzinho a lutar pelo bem. Etc. e tal.

Obviamente tudo acaba bem para nosso gáudio depois de largas gargalhadas perante as múltiplas situações burlescas, surreais, bizarras e satíricas. O ritmo é delirante, frenético. E o fim é apoteótico de música e dança negra, algo quase irreal, se pensarmos na história da segregação racial nos EUA, fortíssima naquela altura. Quase revolucionário, se usássemos as referências do outro Marx. Ou isto anda tudo ligado?

Cada um dos Marx é uma personagem identificável desde o primeiro filme. O nome de guerra de cada um não era o seu nome civil.

Groucho - civilmente chamava-se Julius - óculos redondos, bigode enorme pintado e sobrancelhas maiores que um telhado, era o pinga-amor, com o andar projetado para a frente. Grandes citações, frases retóricas. Sempre à procura da mulher rica.

Chico. O charmoso de chapéu tirolês, falava inglês à italiana e tocava piano. Atenção ao dedinho.

Harpo. O mudo que não era mudo e que se fazia entender pelos seus códigos especiais - as cornetas, os assobios e o que mais necessário. Era o mimo, o artista da pantomima, um exímio tocador de harpa que experimentava sempre que o pretexto se apresentava. Então se fosse com uma orquestra era ouro sobre azul.

Perante isto, ouso escrever, vamos ver e recuar umas boas décadas até aquele tempo em que tudo era possível, com a poética desbragada dos Marx.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.

À volta da meia noite, de Bertrand Tavernier (1986)

Com Dexter Gordon, François Cluzet, Herbie Hancock. 1986. 2h13m.  Fim dos anos 50. Dale Turner (Dexter Gordon), um músico americano de jazz,...