Com Irmãos Marx, Maureen O'Sullivan, Margaret Dumont. 1937.
111 min
Ponto de ordem ao e-mail: eu sou marxista. Não, não, não. Ninguém
faça juízos de valor. O outro Marx, Karl de seu nome, não é para aqui chamado,
independentemente do seu papel inapagável na história do mundo nos últimos 150
anos. Eu sou marxista enquanto fã incondicional dos irmãos Marx, que nasceram,
ainda no século XIX, duas gerações depois do senhor das barbas imponentes.
Judeus, nova-iorquinos, filhos de um casal franco-alemão. Três irmãos, (mais um
no início, mas que mais para a frente se deixou de comédias) que desde o fim
dos anos 20 fizeram algumas das comédias
mais loucas (no bom sentido) da história do cinema.
Iniciaram-se como artistas de variedades, circulando pela América em
espectáculos de vaudeville e burlesco. Mais para a frente têm a afirmação na
Broadway e não resistiram ao fascínio de Hollywood. Em 1929, fizeram o primeiro
filme "The Cocoanuts" a partir de uma comédia que eles representavam
com sucesso em Nova York.
"Um dia nas corridas" é já da fase madura (sétimo filme) ,
dirigido por um realizador respeitável (Sam Wood) e a história é bem normal
dentro dos padrões mais ou menos tipificados daquela altura: um sanatório com
dívidas, na Flórida, em vias de ser abocanhando por especuladores imobiliários.
Corridas de cavalos como hipótese de salvação do sanatório se os bons ganharem.
Um médico que, na verdade, é veterinário, um jogo de equívocos muito próprio
dos Marx. Um jovem casal, muito bonzinho a lutar pelo bem. Etc. e tal.
Obviamente tudo acaba bem para nosso gáudio depois de largas
gargalhadas perante as múltiplas situações burlescas, surreais, bizarras e
satíricas. O ritmo é delirante, frenético. E o fim é apoteótico de música e
dança negra, algo quase irreal, se pensarmos na história da segregação racial
nos EUA, fortíssima naquela altura. Quase revolucionário, se usássemos as
referências do outro Marx. Ou isto anda tudo ligado?
Cada um dos Marx é uma personagem identificável desde o primeiro filme.
O nome de guerra de cada um não era o seu nome civil.
Groucho - civilmente chamava-se Julius - óculos redondos, bigode enorme
pintado e sobrancelhas maiores que um telhado, era o pinga-amor, com o andar
projetado para a frente. Grandes citações, frases retóricas. Sempre à procura
da mulher rica.
Chico. O charmoso de chapéu tirolês, falava inglês à italiana e tocava
piano. Atenção ao dedinho.
Harpo. O mudo que não era mudo e que se fazia entender pelos seus
códigos especiais - as cornetas, os assobios e o que mais necessário. Era o
mimo, o artista da pantomima, um exímio tocador de harpa que experimentava
sempre que o pretexto se apresentava. Então se fosse com uma orquestra era ouro
sobre azul.
Perante isto, ouso escrever, vamos ver e recuar umas boas décadas até aquele tempo em que tudo era possível, com a poética desbragada dos Marx.
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