01 janeiro 2024

Do Fundo do Coração de Francis Ford Coppola

Com Frederic Forrest, Teri Garr, Nastassia Kinski. 1982. 95 min

A década de 70 foi prodigiosa para F. F. Coppola:  "O Padrinho" I e II e "Apocalipse Now", são três filmes que  fazem parte da história do cinema e referência inquestionável no quadro vivencial e cultural do pessoal daquela geração (na verdade somos nós). Com o prestígio (e os milhões ganhos) Coppola sonhou alto. Concebeu um quadro de produção radicalmente alternativo a Hollywood. Chamou-lhe Zoetrope. Um estúdio baseado nas novas tecnologias que no início dos 80 estavam a dar os primeiros passos (o cinema electrónico), aberto a jovens talentosos e com ideias brilhantes. São Francisco foi o centro daquele mundo.

Mas vai sempre uma longa distância entre o sonho e a realidade. Foi lá que ele fez este filme. Integralmente produzido em estúdio. E espantosamente, num quadro projectado para o futuro - mais 20 anos e se calhar as coisas teriam sido diferentes - Coppola vai fazer o seu primeiro filme no seu espaço autónomo sem interferências dos "big bosses" de Hollywood, recuperando um dos géneros clássicos do cinema americano, o filme musical. História mais do que simples. O beábá. - um homem, uma mulher. A crise do casal. A aparente separação. A traição mútua. E...finalmente o reencontro amoroso (provavelmente até à próxima crise, que já não faz parte do filme). Recuo na história do cinema de uns 40 anos. Mas isto é apenas o pretexto para um exercício (chamemos-lhe assim por respeito e admiração por Coppola) de prestidigitação. A exuberância das cores e das luzes, o artificialismo e o maravilhoso no universo aberrante e desértico de Las Vegas. A mobilidade da câmara em sequências deliciosas, como se aquilo fosse um circo e a magia estivesse ao virar da esquina. É um grande sonho, um devaneio, um desejo de fuga para um distante Pacífico (Bora Bora) ou para Paris ou Roma. Mas como um dos personagens diz, é tarde de mais.

O filme é um brinquedo maravilhoso de tal modo estupidamente caro que o nosso amigo Coppola se afundou com ele. Bancarrota. Dizem as crónicas que foram 27 milhões de U$D derretidos com a megalomania do Francis. A  comunidade de realizadores e argumentistas que ele sonhava para animarem a Zoetrope não passou de uma miragem.

Felizmente que ele ultrapassou a crise (mais uma) e continuou a fazer pequenas obras-primas e, acima de tudo, criou na sua propriedade em Napa Valley algum dos melhores vinhos do mundo. Brindemos a ele.

Já agora,  em casa também podem beber um copo enquanto ouvem o Tom Waits acompanhado pela Crystal  Gayle em toda a banda sonora do filme. Se não tiverem, basta qualquer álbum  do Tom Waits, grande trovador do nosso tempo. Não o conhecem? Ainda estão a tempo.

Tchim tchim...

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