A década de 70 foi prodigiosa
para F. F. Coppola: "O
Padrinho" I e II e "Apocalipse Now", são três filmes que fazem parte da história do cinema e
referência inquestionável no quadro vivencial e cultural do pessoal daquela
geração (na verdade somos nós). Com o prestígio (e os milhões ganhos) Coppola
sonhou alto. Concebeu um quadro de produção radicalmente alternativo a
Hollywood. Chamou-lhe Zoetrope. Um estúdio baseado nas novas tecnologias que no
início dos 80 estavam a dar os primeiros passos (o cinema electrónico), aberto
a jovens talentosos e com ideias brilhantes. São Francisco foi o centro daquele
mundo.
Mas vai sempre uma longa
distância entre o sonho e a realidade. Foi lá que ele fez este filme.
Integralmente produzido em estúdio. E espantosamente, num quadro projectado
para o futuro - mais 20 anos e se calhar as coisas teriam sido diferentes -
Coppola vai fazer o seu primeiro filme no seu espaço autónomo sem
interferências dos "big bosses" de Hollywood, recuperando um dos
géneros clássicos do cinema americano, o filme musical. História mais do que
simples. O beábá. - um homem, uma mulher. A crise do casal. A aparente
separação. A traição mútua. E...finalmente o reencontro amoroso (provavelmente
até à próxima crise, que já não faz parte do filme). Recuo na história do
cinema de uns 40 anos. Mas isto é apenas o pretexto para um exercício
(chamemos-lhe assim por respeito e admiração por Coppola) de prestidigitação. A
exuberância das cores e das luzes, o artificialismo e o maravilhoso no universo
aberrante e desértico de Las Vegas. A mobilidade da câmara em sequências
deliciosas, como se aquilo fosse um circo e a magia estivesse ao virar da
esquina. É um grande sonho, um devaneio, um desejo de fuga para um distante
Pacífico (Bora Bora) ou para Paris ou Roma. Mas como um dos personagens diz, é
tarde de mais.
O filme é um brinquedo
maravilhoso de tal modo estupidamente caro que o nosso amigo Coppola se afundou
com ele. Bancarrota. Dizem as crónicas que foram 27 milhões de U$D derretidos
com a megalomania do Francis. A comunidade
de realizadores e argumentistas que ele sonhava para animarem a Zoetrope não
passou de uma miragem.
Felizmente que ele ultrapassou a
crise (mais uma) e continuou a fazer pequenas obras-primas e, acima de tudo,
criou na sua propriedade em Napa Valley algum dos melhores vinhos do mundo.
Brindemos a ele.
Já agora, em casa também podem beber um copo enquanto
ouvem o Tom Waits acompanhado pela Crystal
Gayle em toda a banda sonora do filme. Se não tiverem, basta qualquer
álbum do Tom Waits, grande trovador do
nosso tempo. Não o conhecem? Ainda estão a tempo.
Tchim tchim...
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