Com Robert de Niro, Nick Nolte, Jessica Lange. 1991. 128 min
Scorsese e
Spielberg. Do outro lado o estúdio Universal. "O Cabo do Medo" estava
atribuído a Spielberg e "A Lista de Schindler" a Scorsese. Mas o
mundo de Hollywood tem muitas atribulações e tudo acabou da melhor forma
possível para os amantes do cinema. E de que maneira!... Neste caso mais um
grande projecto para o De Niro numa história terrível, densa e arrepiante. Um
psicopata, abjecto e exibicionista liberto da prisão onde passou 14 anos
procura o advogado que o defendeu mal (ocultação de provas) e procura a
vingança. Ninguém escapa à sua acção psicótica, à sua verdade, à sua justiça. O
personagem carrega com ele todo um programa sob a forma de tatuagens. O seu
corpo é a sua mensagem. Tal como no início as paredes da sua cela indiciam o
que vem aí. Tentem ver atentamente... A verdade e a justiça que ele procura - e
também a redenção - estão gravados na sua pele. E a Bíblia como aval. A forma
da ficção, como se fosse um thriller clássico dos anos 40 ou 50, é a matriz da
enunciação de uma história que cava mais fundo, indo até à essência do ser
humano, dos seus medos e fantasmas. Como diz o Cady (De Niro): "Ninguém
escapa aos seus demónios" . Na luta final num barco à deriva, a loucura
atinge o seu auge e vemos Cady na água entoando uma lengalenga numa língua
estranha. Será que dialoga com os seus demónios e eles o acolherão, a ele que
diz que vai para a terra prometida? Ou sobreviveu e anda por cá a
atormentar-nos?
A intensidade
dramática é espantosa. A duplicidade de sentidos e significados vai baralhando
as leituras. Os limites das fronteiras
entre o bem e o mal vão-se baralhando. Os limiares da ética são difusos.
Apesar de
Scorsese ter apontado algumas resistências para aceitar fazer o filme, acredito
que lhe terá dado um prazer especial porque é um "remake" de um filme
de 1962 de um género de que ele, como cinéfilo, adora. A versão original foi
feita por um cineasta de referência em Hollywood, J. Lee Thompson, que fez por
exemplo "Os Canhões de Navarone" e "As Minas de Salomão".
Scorsese homenageou a primeira versão do filme convidando para pequenos papéis
os dois actores principais, Robert Mitchum e Gregory Peck.
Há que estar
atentos a todos os pormenores. Scorsese não
nos deixa descansar. Temos que estar em alerta contínuo porque o medo
impregna-se. Resistamos-lhe, mas sejamos cúmplices com o jogo dramático que o
Scorsese manipula como um mestre.
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