Com Clint
Eastwood, Meryl Streep. 1995. 135 min
Encontro abençoado entre duas das referências incontornáveis do cinema americano das últimas décadas.
Uma história de quatro dias de mútua atração e êxtase entre duas pessoas com mundos e vivências muito diferentes.
Verão de 1965. Uma mulher num rancho, casada, com dois filhos, algures no Estado do Iowa (centro/oeste dos EUA entre os rios Missouri e Mississippi). Francesca de seu nome, nascida em Itália. Trazida para os EUA pelo marido, soldado americano na Segunda Guerra Mundial. Tem o mundo truncado pela continuidade indefinida das searas de trigo e dos campos de milho e pelo ritmo anual das colheitas.
Um homem que chega. Fotógrafo profissional da National Geographic. Vai fazer uma reportagem sobre as pontes cobertas em madeira que fazem parte daquele universo rural desde o século XVIII. Robert é o seu nome e tem muito mundo na sua vida.
Do encontro
acidental à paixão tórrida foi uma questão de horas. Quatro dias depois tudo
estava acabado , como se fosse a canção do Chico Buarque... e tudo acabou na
quarta-feira. Mas não. A memória. As recordações. Os sonhos. Tudo isso perdurou
no coração dela até ao momento final da sua vida. É disso que é feita esta história
contada em flashback através da leitura dos diários deixados pela Francesca aos
dois filhos.
Naqueles quatro
dias em que o marido e os dois filhos se ausentaram para irem a uma feira
agrícola, aquela mulher que tinha uma vida decente, equilibrada, programada
pelos usos e costumes lá da terra, como que sai de si. A Itália perdida da sua
juventude. Os interesses culturais (a ópera, os blues, a literatura). O corpo
mais ou menos entorpecido a ressuscitar o desejo.
À medida que os
filhos vão lendo os diários (ambos refletindo as limitações da sua educação
naquele universo fechado) vão aceitando a evidência dos factos. A mãe tinha
vivido aquilo. Choque e admiração. Da intransigência à aceitação. Cada um deles
percebe (mas se calhar nada vai acontecer) que eles próprios têm que agitar os
seus quadros de vida familiar, que sabemos não serem nada bons.
Obviamente que
a Francesca não foi ter com o Robert. Não era louca. Não teve coragem. Como ela
dizia, receava as mudanças.
Retomou a
normalidade do dia a dia. Ficou com as memórias e os sonhos. Nós ficamos com
uma história belíssima contada a um ritmo lento, pausado, próprio daqueles
sítios em que quase nada acontece.
A Streep e o Eastwood dão-nos uma lição de representação e cinema. A contenção dela naquele processo de revivificação e a normalidade daquele fotógrafo que ali encontra o que no fundo de si procurava há décadas. Cinema de excelência na melhor tradição dos clássicos. Quarenta anos antes e esta história poderia ter sido filmada pelo John Ford. Querem melhor elogio?
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