Comecemos pelo autor. Mel
Brooks, na verdade Kelvin Kaminsky. O nome não engana. Judeu de origem polaca,
mas nascido em Brooklyn. Woody Allen também é nome fake. Na origem é bem judeu
- Allan Stewart Konigsberg. Isso de muitos actores e outros artistas americanos
mudarem de nome não é assim tão neutral ou artificioso. Em muitos casos, como
este, era por razões defensivas. Nome judaico? Não. A psicanálise ajudará
eventualmente a esclarecer o imbróglio.
Pois o Mel Brooks fez-se artista
como escritor de sketches cómicos para televisão (tal como o Woody Allen) e
músico. Deve-se-lhe a criação, juntamente com Buck Henry, da série televisiva
cómica de grande sucesso - "Get Smart" (que também passou por cá).
Depois foram as suas aventuras no
grande ecrã. Começou com sucesso. "O falhado amoroso" deu-lhe o Oscar
do melhor argumento. Já aqui entrava o Gene Wilder, com os seus olhos
esbugalhados, membro da pandilha de actores que foram fazendo os filmes do Mel
Brooks.
A partir daí (1968), vai fazer um
conjunto de filmes que definem a sua obra como um projeto alargado de filmes
sobre filmes, ie. uma abordagem paródica, crítica, cínica, por vezes risível,
de modelos do cinema clássico americano: o western, o horror, o policial, o
épico histórico, a ficção científica, o filme mudo. É neste quadro que nasceu o
projecto de "Frankenstein Junior" escrito a meias com o Gene Wilder
que faz o papel do neto de Frankenstein.
"Frankenstein" foi um
livro escrito por Mary Shelley, em Inglaterra no princípio do século XIX, e
tornou-se um êxito como manifestação de um romantismo decadente, algo doentio.
Hollywood no início do sonoro (1931) vai pegar no livro e transforma-o num
sucesso. Boris Karloff, o actor, atinge o zénite. Depois, Hollywood foi
explorando ao longo do tempo, de todas as formas e feitios, o personagem, a par
e passo de Drácula (também um êxito do
mesmo ano, a partir de um livro de Bram Stocker -1897).
Pois em 1974 é a vez de Mel
Brooks. O neto de Frankenstein, um jovem professor universitário neurocirurgião
na América, recebe como herança do seu avô um castelo na Transilvânia
(engraçado, é que esta região da Roménia, lá para os Cárpatos, está associada,
isso sim, à lenda de Drácula). Vai lá, onde encontra um livro com os textos do
avô sobre as suas experiências. A sua curiosidade científica vai lançá-lo num
processo perigoso - criar vida a partir da morte. Vamos acompanhá-lo naquele
universo barroco, onde a mística judaica e a cabalística se cruzam com a
alquimia. Os seus companheiros
na aventura são bizarros, uma
menina angélica, um corcunda mais feio que o Frankenstein, uma governanta
perversa, etc.
Naquele processo alquímico a
lógica é subertida, o excesso nem sempre respeita a verosimilhança. Mas isso
interessa?
O gozo é muito neste filme a
preto e branco, num estilo visual como se fosse feito nos heróicos anos 30 nos
estúdios da Universal, que ganhou para si a identidade e o proveito deste
género em Hollywood . Obviamente nesses longínquos tempos a Universal fez mais
não sei quantos filmes a partir do original - a noiva de, o filho de, o
fantasma de Frankenstein...e por aí fora.
Já agora... Nos anos 50 e 60, em
Inglaterra produziram-se carradas de filmes deste universo bizarro. Christopher
Lee foi a estrela de bastantes dráculas de dentes afiados e sotaque british.
Este tipo de filmes tem ao longo
dos anos criado um imaginário rico que vem de muito de trás. A essência do
cinema expressionista alemão das duas primeiras décadas do século XX, o gótico
e o sobrenatural, são aqui muito bem reproduzidos. Filmes com "O gabinete
do Dr. Caligari" , "O Golem" e "Nosferatu" são
referências de topo da história do cinema.
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