A cortina rasgada, de Alfred Hitchcock. Com Paul Newman, Julie Andrews, Lila Kedrova. 1966. 123m
Então a coisa é assim. Quando deserta para a Alemanha de Leste, o cientista nuclear americano Michael Armstrong (Paul Newman) é seguido pela noiva, Sarah Sherman (Julie Andrews), que não sabe que ele finge ser um desertor. A sua verdadeira missão é roubar uma fórmula química secreta e, em seguida, voltar para a América. Cumprida a missão, a fuga é complicada pela presença de Sarah e pela perseguição dos agentes da STASI (muito pior que a PIDE com sabem). Após fuga de autocarro desde Leipzig até Berlim (sequência deliciosa sobre o medo) conseguem safar-se para a Suécia. Pelo meio há pequenas joias (cinematograficamente, claro). A morte do agente da STASI, um longo tour de force dramático. O encontro com a condessa polaca, personagem felliniana, patética no seu desespero de conquistar uma passagem para a América. A sequência quase final do espectáculo de ballet, a remeter para uma das obras-primas do mestre - O Homem que Sabia Demais. Claro que este filme não está no top do ranking hitchcockiano. Já estamos na fase final da sua criatividade. Só iria fazer mais 3 filmes, de volta a Inglaterra, sem nunca abandonar Hollywood. Mas não é de desprezar. Pelo contrário. Além disso tinha o Newman e a Andrews que não faziam parte do clã do Hitchcock (aparentemente não gostou nada deles) mas são incontornáveis na história do cinema. Passados estes anos todos quando pensávamos que aquele quadro geopolítico estava afogado definitivamente no tempo, afinal tudo está a regressar. A Guerra Fria. A Cortina de Ferro. O Muro (já não é de Berlim, mas...). Neste contexto divirtamo-nos com as tropelias dramáticas do mestre e sejamos solidários com quem sofre. Viva a Ucrânia!