Cinco filmes da
nossa memória, pelo menos da maioria de nós. Cinco filmes que entraram no nosso
imaginário. Todos foram obra do cineasta inglês David Lean. Obviamente figura
maior da história do cinema.
Mas a sua obra
vem lá mais de trás. Do tempo da guerra. E em boa companhia. Nesses tempos
horríveis ele colaborou com Noel Coward, um dos mais brilhantes artistas
ingleses do século XX - dramaturgo, actor, encenador e realizador. Assim, em
1945 (ainda a Europa estava em guerra) conseguiu fazer o seu primeiro filme
como realizador, a partir de uma peça de teatro do seu mestre Noel Coward -
"Still Life" (1936).
Num quadro de
comportamentos repetitivos - de casa para o comboio, do trabalho para o comboio
e vice-versa - um homem (médico) e uma mulher (dona de casa) encontram-se numa
estação de comboios, conhecem-se, conversam e amam-se. Mas cada um deles é
casado, tem filhos e uma vida estabilizada. Aparentemente a vida da mulher até
é muito normal e decente.
Casamento
versus paixão. Amor e adultério. O desejo e a censura social. Em última
instância, a impossibilidade do amor. A melancolia apodera-se dos personagens.
A efemeridade é assunção mútua. Cada um
irá para o seu lado. Ela (Laura) retornará para o marido, os filhos e a casa
que, na verdade, nunca abandonou (só foi mentindo cada vez mais, com maior
risco). Ele (Alec) sairá da história da forma mais britânica que se pode
imaginar - vai (foge ao destino) para uma colónia africana do Império Colonial
Inglês. Leva a mulher e os filhos e vão certamente beber muitos gins, jogar
cricket e contribuir ativamente para o status quo do Império. Só iria durar
mais vinte anos, como sabemos.
Muito bem
articulada a matriz da ficção. Umas sequências iniciais (que correspondem ao
encontro final entre os dois amorosos) e longos flashback numa espécie de
diálogo interior da mulher como se contasse ao marido o caso. E o círculo
fecha-se em repetição. Para sempre. A normalidade volta à vida. A fantasia e o
sonho não eram possíveis na Inglaterra daqueles tempos.
Ao longo dos
encontros na estação a história vai sendo pontuada com uma espécie de
intermezzos entre a dona do bar e um ferroviário (uma história de amor pouco
clara) que funciona como um contraponto jocoso à densificação crescente da
relação entre Laura e Alec.
Melodrama na
sua essência. A não celebração do amor intenso pelas mais diversas e, às vezes,
incríveis razões.
A história do cinema reserva o seu lugar cativo a este filme. Com razão.
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